Diário das pequenas descobertas da vida.
Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2006
Loqui longinquitate
Alexander Graham BellJá todos (muitos?) ouviram falar da história do telefone:
Alexandre Graham Bell patenteou o telefone a 10 de Março de 1876 (foi uma sexta-feira, como se pode verificar usando a Regra de Zeller).
Nesse dia efectuou a célebre primeira chamada para uma sala adjacente onde estava o seu assistente, Thomas Watson. As primeiras palavras proferidas foram «Sr. Watson, venha cá, preciso de si!" (talvez também sido a «primeira chamada de valor acrescentado» da história...)
Graças ao comentário de «Joues», realça-se aqui o facto de a «US House of Representitives» (parte do Congresso dos EUA) ter reconhecido, em Junho de 2002, o emigrante italiano Antonio Meucci como o inventor do telefone e não Bell. Como é supracitado, Bell patenteou o telefone em 1876 mas já em 1854 Meucci tinha ligado, através de um dispositivo de comunicação, o quarto de dormir no 2º andar da sua casa com o laboratório na cave para poder falar com a esposa acamada com reumatismo. A patente lá está, em nome de Bell, mas a invenção é de, pelo menos, de 1854 (por Meucci).

Mas a história dos telemóveis não é tão conhecida.

O Homem sempre procurou formas de comunicar à distância: sinais de fumo, espelhos, tambores, pombos-correio,... até usar a ressonância especial de algumas zonas para ampliar o eco da voz e projectá-la a uma maior distância. Surgiu depois o telefone e a possibilidade de pôr em contacto duas pessoas a uma grande distância.
Mas necessitava de um fio para transmitir os sinais elétricos em que a voz tinha sido convertida. Isso implicava que ambos os interlocutores estiveussem em pontos fixos, onde existisse um telefone, para poderem comunicar.

Mas o sonho de ligar, por voz, duas pessoas independentemente da sua localização não foi esquecido e, em 1946, o primeiro serviço de telefones móveis foi lançado nos EUA, ligando, através de um rádio, veículos em movimento (tipicamente táxis e ambulâncias) com a central de telefones. Isto levou à ideia de que várias antenas, espalhadas por uma grande área, permitiriam estabelecer várias comunicações móveis simultaneamente em frequências diferentes (o conceito moderno básico do telemóvel). Mas restições puramente legais ao número de chamadas permitidas simultaneamente atrasaram o desenvolvimento dessa tecnologia.

Só em 1977 (101 anos após a patente do telefone) a companhia fundada por Bell construiu e operou um primeiro protótipo de telemóvel e em 1979 o primeiro serviço de telemóveis começou a operar em Tóquio, no Japão. Entretanto, nos EUA, somente em testes a nova tecnologia progredia (devido às limitações legais) mas finalmente, em 1982, a legislação foi alterada e serviços de telemóveis tornaram-se enfim competitivos.

O modo de funcionamento dos telemóveis usa o princípio das várias antenas espalhadas numa região para providenciarem cobertura. Cada antena tem uma limitada zona de recepção e envio e estão separadas em intervalos regulares no centro de célula em forma de hexágono de recepção-envio.
É esta a razão porque, no Brasil, os telemóveis são chamados de «celulares» e, nos EUA, de «cell phones»)

Cada célula tem uma antena no seu centro e todas as células estão agrupadas em grupos de 7, formando um hexágono maior com a célula interior com a antena mais potente. Célula adjacentes funcionam a frequências diferentes, pelo que é possível, na mesma região, células a funcionarem com frequências iguais (basta que tenham uma outra célula, com frequência diferente, entre ela.)
Desta forma alargou-se significativamente o número de chamadas que era possível realizar na mesma rede.
Nas primeiras redes criadas, as analógicas, cada célula permitia 56 chamadas simultâneas eram permitidas dentro de uma mesma célula (1ª Geração, 1G).
Com a digitalização dos sinais (em que a voz é transformada em 0's e 1's) passou a ser possível 168 chamadas simultâneas na mesma célula (2ª Geração, 2G).
Os telemóveis de 3ª Geração possuem características de multimédia, como leitura de música, vídeos, recepção e emissão de e-mails,...

Há medida que o telemóvel se afasta da antena da sua célula, o sinal vai diminuindo. Mas na célula contígua o sinal vai surgindo mais forte. Cada célula monitoriza os sinais dos telemóveis que estão na sua zona mas também os sinais que recebe das células vizinhas. Quando o telemóvel passa a fronteira entre as células, a antena da célula que se abandonou recebe a informação e o telemóvel muda a frequência para a da célula na qual entrou. Tudo feito com tal rapidez que impede a percepção da mudança da frequência que o telemóvel está a usar.

Os telemóveis comunicam com as antenas receptoras-emissoras (e estas com os telemóveis) através de radiações com uma frequência entre os 3 kHz e 300 GHz.


Essas frequências situam-se na parte mais baixa do espectro, na zona das radiações não-ionizáveis. Isto significa que não são, em si mesmas, cancerígenas. Não possuem energia suficiente para alterar a estrutura genética das células.
(Para outras considerações sobre os efeitos da radiação ver:
Lux mundi sobre o espectro electro-magnético;
Solar ambusti sobre os efeitos da raiação na pele;
)
Por isso também os micro-ondas não são cancerígenos nem tornam os alimentam que confeccionam cancerígenos.
As radiações dos telemóveis situam-se na mesma banda de frqueências dos micro-ondas mas com menos potência.

As preocupações quanto aos efeitos potencialmente prejudiciais para a saúde do uso dos telemóveis não se prendem então com o tipo de radiação que emitem.
As micro-ondas dos telemóveis apenas aquecem as partículas com que entram em contacto, tal como o faz a luz do sol, por exemplo.
Portanto a preocupação não é com o tipo de radiação que os telemóveis emitem (que é perfeitamente segura) mas com os eventuais (mas não ainda demonstrados cientificamente como existentes) efeitos do ligeiro aquecimento das células do corpo mais próximas do transmissor do telemóvel. A preocupação (se se confirmar como verdadeira) é com persistente exposição a esse aquecimento ao nível das células internas.
Os olhos, em especial, são particularmente sensíveis a ligeiros aumentos de temperatura, uma vez que não têm mecanismos de dissipação rápida de calor.
É esta a razão pela qual, quando se fala muito tempo ao telemóvel, a orelha que esteve em contacto com o telemóvel aquece muito. Recomenda-se alternar o telemóvel entre ouvidos durante a conversa para diminuir esse efeito.

Estima-se que, em 2005, existissem 1 mil milhões e 600 milhões de telemóveis no mundo para os 6 mil milhões e 500 mil habitantes totais do mundo.
Dá 1 telemóvel para 4 seres humanos actualmente existentes.
Tendo em conta a novidade da tecnologia (de 1977 até 2005 medeiam apenas 28 anos) é um número impressionante.
(Agradeço à «Raquel» a chamada de atenção para o facto de a referência anterior, de que existiam 4 telemóveis para cada pessoa no mundo, estar incorrecta. Obviamente são 4 pessoas por cada telemóvel.)

Há um ponto que falta referir sobre os telemóveis: os seus efeitos sociais positivos. Antigamente, num café, quem estivesse à espera de alguém puxava de uma cigarro e assim entretia-se a fumar enquanto aguardava. Quem não fumasse sujeitava-se aos períodos incertos de espera pela outra pessoa e dava a ideia de desespero, de solitário. Mas com a invenção do telemóvel tudo isso mudou em, pelo menos, 3 aspectos importantes: quem aguarda pode:
1- ligar à pessoa que espera e perguntar se falta muito;
2- enquanto espera depois pode ocupar-se a ligar para a sua caixa de correio ou para o saldo ou ler as mensagens ou mandar uma (ou fingir que faz qualquer uma delas) ou jogar um jogo;
3- ao usar o telemóvel evita encher os pulmões de alcatrão, o cérebro de nicotina, as células de elementos cancerígenos, o ambiente de fumo, as roupas de mau-cheiro, os dedos de amerelo, os dentes de sujidade e evita que tudo isso aconteça às pessoas que partilham o mesmo espaço comercial e também têm o direito de não fumarem nem apanharem com fumo alheio.

O telemóvel é o cigarro do futuro, dependência e tudo mas sem fumo...


No título «Falar à distância»


Publicado por Mauro Maia às 20:41
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12 comentários:
De Rui a 17 de Janeiro de 2006 às 10:23
Ah, os telemóveis, essa espécie! Aqui está um assunto que realmente ninguém se lembrou de referir: quem é o responsável por esse estranho bicho que assaltou o mundo? E, já agora, não sei se está relacionado com radiações ou não, mas quando passo muito tempo ao telemóvel, além das orelhas quentes, sinto-me quase bêbado, com a cabeça a andar à roda e tonturas.


De Mauro a 17 de Janeiro de 2006 às 11:11
Pelo que eu pude perceber, a ideia de um telemóvel surgiu em várias mentes em várias alturas. Conjugar rádio e telefone existe desde o século XX. O passo para os telemóveis só necessitou que a tecnologia acompanhasse o sonho. Tendo em conta o desenvolvimento científico exponencial do século passado, isso não tardou muito. Mas eu não tenho conhecimento de um nome que esteja universalmente aceite coomo o criador dos telemóveis. Como refere o artigo, a mesma empresa de telefones que Bell criou desenvolveu um primeiro protótipo de um telemóvel. E ainda não há consenso sobre os potenciais perigos da emissão de micro-ondas tão perto do corpo humano. Há estudos que afirmam que são, há estudos que afirmam que não. Há estudos que referem que o uso de um auricular é positivo (mantém a emissão das micro-ondas longe do corpo), há estudos que referem o oposto. Enfim, esta questão é quase como os provérbios populares: há sempre um estudo que apoia seja qual for a nossa ideia.


De js a 17 de Janeiro de 2006 às 11:23
...não faltará muito para que os seres humanos comecem a nascer ...já com antena de telecomunicações integrada...
FORÇ'AÍ!
js de http://politicatsf.blogs.sapo.pt e http://mprcoiso.blogs.sapo.pt


De Mauro a 17 de Janeiro de 2006 às 11:35
Parace-me que já faltou mais, js: já desenvolveram roupas que o fazem e com a história dos porcos geneticamente modificados para brilhar no escuro... Quem sabe para quando nasceremos com uma tomada hi-tech «Matrix» directamente no cerebrelo...


De . a 17 de Janeiro de 2006 às 14:49
Já agora, e para quem não apreciasse a estética decorrente da implantação de semelhante tomada, uma ligação "Matrix" Wi-Fi...


De Rui a 17 de Janeiro de 2006 às 15:36
Há um outro efeito positivo: se essa pessoa a entreter-se com o telemóvel está à espera de alguém, esse alguém pode avisá-la que afinal não vai chegar, impedindo-a de ficar à seca.


De Mauro a 17 de Janeiro de 2006 às 18:08
Uma boa ideia a implementar, «.» Em termos estéticos seria mais vantajoso. Eu agora imagino é o potencial de impressão dos nossos pensamentos numa qualquer impressora que estivesse à mão... ;)
É mais uma vantagem do telemóvel, «Rui»: um cigarro não indica se a outra pessoa sempre vem ou não. Terei de acrescentar essa outra vantagem no artigo.


De . a 17 de Janeiro de 2006 às 19:06
Teria de ser uma impressora dot-matrix...


De Joues a 21 de Janeiro de 2006 às 15:31
Sendo eu, um adepto deste blog, não posso deixar de recordar que o verdadeiro inventor do telefone, não é Bell, mas Antonio Meucci, que como tal foi reconhecido em 2002 pelo Senado Americano.


De Mauro a 21 de Janeiro de 2006 às 16:53
Agradeço-te muito, «Joues» pela correcção. Ao longo da história (muito curta, é verdade) do Cognosco, este esteve sempre aberto a sugestões/correcções/complementos aos artigos que publica. o fito é o de conhecer, não o de fingir autoridade. De facto, como bem referes, em Junho de 2002 a «US House of Representitives» (que faz parte do Congresso, e não do Senado, dos EUA) reconheceu o inventor italiano Antonio Meucci como o verdadeiro inventor do telefone (em 1854 Meucci ligou o quarto de dormir no segundo andar ao laboratório na cave para comunicar com a mulher, incapaz de sair da cama por causa do reumatismo). Meucci foi um emigrante italiano nos EUA em 1850, quatro anos antes de inventar o telefone. Obrigado, Joues, pelo contributo e o artigo será modificado em relação a este ponto.


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