Diário das pequenas descobertas da vida.
Sábado, 30 de Abril de 2005
Harmonia familiar

Em casa as tarefas são divididas igualmente: ela manda e eu obedeço...
Inversão de valores

Na biblioteca cada um dirige-se à secção de livros mais do seu agrado...
Sexta-feira, 29 de Abril de 2005
Saturação

Eis um destino horrível: um homem que tem tanta cultura que se saturou. Um pouco como um cozinheiro, cansado da
novelle cuisine.
Já tive oportunidade de
comentar no
bloquito sobre esta questão.
Quantos de nós já não chegaram a casa cansados de um dia de trabalho, de uma série de papeladas resolvidas, de chatices geridas e ultrapassadas e não conseguem ler o livro que tanto os estava a emocionar? Não conseguem ver o DVD daquele filme que o amigo emprestou? Não conseguem ouvir o CD que acabaram de comprar?
É que os estímulos culturais são tantos na sociedade em que vivemos que por vezes não temos tempo nem disponibilidade para procurarmos novos estímulos ou criarmos nós mesmos esses estímulos. Nesse dia não conseguimos fazer o próximo capítulo do livro que andamos a escrever, não conseguimos tocar um novo acorde para a música que estamos a escrever, não conseguimos escrever a próxima cena da peça que andamos a escrever, não conseguimos escrever um novo artigo para o blog que andamos a escrever.
E o mundo parece que desaba. "Mas quem sou eu afinal?! Sempre gostei de escrever livros/músicas/peças/blogs e agora
não consigo?"
É aí que nos apercebemos que "Fui infectado com o vírus SC1 (saturação cultural)".
O diagnóstico é garantido quando nem temos força para ler os 3 novos artigos do dia do
Cognosco.
Infelizmente só há um tratamento para o SC1, a estremamente dolorosa quarentena.
Eis pois o remédio do séc. XXI para a doença do séc XXI: não leiam, não conversem, não vejam filmes, não ouçam música, não usem a internet, não leiam o
Cognosco e aguardem. Dependendo do vosso estado de toxico-dependência a ressaca chegará.
Quando chegar nadem em livros, vejam filmes, comentem e tudo mais com a alegria dos ditosos quinze...
Se bem que não sei se não é preferível morrer desta doença em vez da cura...
Bases para a leveza de espírito
A Matemática tem estranhas famas.</br>Geralmente que é uma disciplina estática, parada (num pleonasmo que peço que considerem figura de estilo), que não tem imaginação nem desenvolvimento.</br>Ora acontece que a Matemática é a disciplina que mais personifica o espírito humano. Tem todas as virtudes que se desejariam no ser humano perfeito:</br>~ é
honesta (é impossível fazer Matemática desonesta. Os resultados
não saem);</br>~ é
elegante (a sua beleza tem apaixonado milhões de pessoas desde que surgiu o
homo sapiens;</br>~ é permanentemente
jovem (por muitos milhares de anos que tenha renova-se constantemente, sem no entanto se esquecer de toda a sua História);</br>~ é
bondosa (tem sempre um presente para quem a procura, seja rico ou pobre);</br>~ é
desprendida (qualquer um, rei ou plebeu, pode brincar com ela);</br>~ é
persistente (perante um problema arregaça as mangas e põe-se ao trabalho);</br>~ é
despretenciosa (por muito que saiba e a admirem por isso procura sempre saber mais, ir mais longe, ser mais do que já é);</br>E muitas mais qualidades se poderiam apontar.</br>A Matemática fornece sempre as respostas correctas a um problema. Acontece é que é
muito dependente do contexto em que se procura a solução. A resposta a um problema num contexto pode ser outra noutro contexto.</br></br>Um dos enlatados de letras que as pessoas costumam abrir quando querem ter razão na sua visão estática é que:</br>em Matemática 1 + 1 = 2
sempre.</br>Se geralmente é assim (na maioria dos contextos é o que verifica) há contextos em que não é verdade. Passo a apresentar alguns casos em que
não é verdade que 1 +1 = 2.</br></br>~ Para este exemplo comecemos por analisar os vulgares relógios e façamos alguma Matemática com eles.</br>.:. Se neste momento for 14 horas, daqui a 6 horas são 14 + 6 = 20 horas.</br>.:. Se neste momento for 17 horas, daqui a 8 horas são 17 + 8 = 25 horas?!</br>Não há 25 horas. Como as 24 horas correspondem às 00 horas,</br> 17 + 8 = 25 = 24 + 1 = 0 + 1 = 1 hora.</br>

</br>Agora imaginem um relógio que tem apenas duas posições: o 0 e o 1.</br>.:. Se neste momento for 0 horas, daqui a 1 hora são 0 + 1 = 1 hora.</br>.:. Se neste momento for 1 hora, daqui a 1 hora serão 1 + 1 = 2 horas?!</br>
Não há 2 horas neste relógio.
1 + 1 = 0 horas.</br></br>~ Nós contamos usando o que se chama base 10, fruto da configuração das nossas mãos. (se bem que houve outras culturas que usavam outras bases). Houve a base 20, as bases 60 (que os Babilónios usavam e que deu origem ao nosso sistema horário...) e muitas outras. Outro exemplo de uma base diferente é a base 2, usada pelos computadores.</br>Quando usamos a base 10, contamos de 0 a 9 e depois, como só há 10 dígitos, o número seguinte é 1 (para as dezenas) e 0 (para as unidades). Vamos contando e somando às unidades até chegarmos a 19. No seguinte as dezenas são 2 e as unidades são 0 (20).
Quando se usa a base 2, só há 2 dígitos, 0 e 1. Contamos 0 , 1 e depois, como não há 2, o número seguinte é 1 (para as "dezenas") e 0 (para as "unidades"). Continuamos a contar e somamos às unidades. A seguir ao 10 (que é o 2 na base 10) temos o 11 (que é 2 + 1 = 3 na base 10). Continuando temos a seguir de somar às dezenas. Como 2 é 10 na base 2, obtesmos 100 (o 4 na base 2). A seguir o 101 (o 5 na base 10). Depois o 110 (o 6 na base 10). Depois o 111 (7 na base 10), 1000 (8 na base 10), 1001 (9 na base 10) e assim sucessivamente.</br>Como os computadores usam a base 2 (que corresponde a
0 desligado e
1 ligado. Como eles "sabem" que 10 corresponde a 2 (para nós), limitam-se a transpor o 10 para 2 e assim para os computadores
1 + 1 = 10</br></br>Há muitos outros exemplos (todos sabem que 1 óvulo mais 1 espermatozóide dá 1 ovo, por exemplo).</br>
I'll stand by you
Uma das minhas minhas músicas preferidas.
Independentemente de onde esteja, do meu estado de espírito na altura que a ouça.
Hoje acordei com ela a beijar-me o ouvido...
I'll stand by you ~The Pretenders
Oh, why you look so sad?
Tears are in your eyes
Come on and come to me now
Dont be ashamed to cry
Let me see you through
cause Ive seen the dark side too
When the night falls on you
You dont know what to do
Nothing you confess
Could make me love you less
Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you
So if youre mad, get mad
Dont hold it all inside
Come on and talk to me now
Hey, what you got to hide?
I get angry too
Well Im a lot like you
When youre standing at the crossroads
And dont know which path to choose
Let me come along
cause even if youre wrong
Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you
Take me in, into your darkest hour
And Ill never desert you
Ill stand by you
And when...
When the night falls on you, baby
Youre feeling all alone
You wont be on your own
Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you
Take me in, into your darkest hour
And Ill never desert you
Ill stand by you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you
Wont let nobody hurt you
Ill stand by you.
Quinta-feira, 28 de Abril de 2005
Sinto saudades da minha avó...

Vivemos na era da Engenharia Genética.</br>
Cada vez se houve mais falar de ADN (
ácido
dexorribo
nucleico), clonagem, doenças genéticas, decifração do Genona Humano...</br>
Mas se muitos ainda tentam agarrar um pontinha de compreensão do que é exactamente o ADN (toda a informação necessária para a produção e manutenção de um organismo), espera-os uma surpresa.</br>
Todos os seres vivos no planeta Terra têm ADN, todos os ADN são constituídos por 4 tipos de moléculas (
Adenosina,
Timina,
Citosina e
Guanina) revestidas por uma camada de proteínas, formando o conjunto uma elegante Dupla Hélice (esta estrutura foi descoberta por Watson e Crick no século passado, o XX), com as moléculas ATGC a formar os "degraus" e as proteínas a formar os dois "corrimãos".</br>
</br>

Mas na verdade há outra coisa que é comum a todos os seres vivos do planeta. Todos eles produzem energia na sua células "queimando" os nutrientes que ingerimos em pequenas estruturas dentro de cada célula chamadas
mitocôndrias, desde as bactérias (o mais pequeno ser vivo) às baleias azuis (os maiores).</br>
Pensa-se que no início da vida surgiram
vários tipos de seres vivos. Todos eles acabaram por se extinguir menos um, o que deu origem a todos os seres vivos actuais. Mas um outro também sobreviveu, bem dentro desse primeiro ser que sobreviveu a todos. As mitocôndrias, antes da lenta eliminação de todos os seres primeiro surgidos, estabeleceu uma simbiose com o ser que eventualmente sobreviveria a todos, o nosso antiquíssimo ascendente. As mitocôndrias produziam a energia e o nosso antepassado fornecia-lhe um lar bem apetrechado e confortável. A relação foi tão proveitosa que subsistiu em
todos os seres vivos até hoje.</br>
Mas como assim, "um outro ser"? Pois se faz parte da célula onde foram eles buscar esta ideia de que foi em tempos um ser independente? Já agora porque não a parede celular ou outras partes da célula? E se todos se tivessem fundido para formar a célula original? Quem diz que não foi só um ser que emergiu, completo com núcleo, parede celular, mitocôndria e tudo o mais a que tem direito?</br>
É que,
caros cognoscentes,
as mitocôndrias têm um ADN próprio, diferente e separado do ADN da célula!</br>
A sua estrutura é muito simples, uma simples linha unida de moléculas com toda a informação necessária para produzir... uma mitocôndria.</br>

</br>
Este ADN tem uma particularidade muito importante para os modernos detectives da história genética da Humanidade. Como este ADN existe somente nas mitocôndrias, quando se forma um óvulo fertilizado este só
contém a mitocôndria do óvulo feminino. A mitocôndria do espermatozóide encontra-se na cauda, onde é precisa para produzir a energia necessária à longa viagem que faz. Quando entra no óvulo, só a cabeça do espermatozóide entra e a mitocôndria masculina perde-se com ela. Assim não há mistura de ADN mitocondrial feminino e masculino. Todas as mitocôndrias do nosso corpo são herdadas através unicamente das mulheres da família. As mitocôndrias são a porção
feminista do nosso corpo, por muito misógeno ou machista que o indivíduo seja. Parte dele será
sempre mulher... ;) </br>
Como, ao contrário do ADN no núcleo da célula o
ADN mitocondrial sofre mutações a um ritmo regular, é possível desvendar os laços que unem seres humanos das origens mais distantes, bastando apenas contar quantas mutações têm eles de diferença do ADN mitocondrial. Se não tiverem nenhuma diferença isso significa que têm um antepassado comum há menos de 20 mil anos, se tiverem uma mutação diferente tiveram um antepassado comum há 40 mil anos, e por aí fora.</br>
Foi por aqui que se confirmou a estreita ligação entre todos os seres humanos no planeta (há muito poucas mutações no ADN mitocondrial entre qualquer pessoa do planeta) e o facto de que todos os seres humanos descendem de uma única mulher que partiu de África à milhares de anos, a muito badalada
Eva Mitocondrial, de que todos ou já ouviram falar ou dentro de muito pouco tempo ouvirão.</br>
É incrível que ainda haja racismo no Mundo... Entre
todos os seres humanos existem menos diferenças genéticas (no ADN nuclear e no mitocondrial) do que dentro de um grupo qualquer de gorilas ou outros símios.</br>
Formamos verdadeiramente uma única família, com uma avó muito corajosa que partiu de África há milhares de anos.</br>
Pullus et ovum

</br>
Há adivinhas que surpreendem pela sua longevidade, apesar da sua
óbvia resposta ter sido há muito dada.</br>
"O que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?"</br></br>
Após Darwin, após a ovelha Dolly, após o Jurassic Park
ainda há quem pergunte isto?!</br></br>
Já tive oportunidade de referir (no artigo
Cave Savrie!) que as aves são as mais recentes descendentes dos dinossáur
ios. Ora, como qualquer réptil que se preze estes punham ovos.
Já havia ovos bem antes de haver dinossáur
ios, logo já
havia ovos antes de haver galinhas.</br>
Claro que a questão se prende com o recursivo argumento de que "do ovo nasce a galinha, a galinha pôs o ovo, do ovo nasceu a galinha,..."</br>
Mas a infinita recursão de argumentos existe apenas aplicada ao campo da
lógica.
Qualquer aplicação fora desse fascinante campo choca de frente com a limitação temporal do Universo, nomeadamente de que teve um indiscutível começo, pelo que se quebrará qualquer argumento deste tipo aplicado a fenómenos físicos.</br></br>
A galinha e o ovo
esTepes

</br>
Imagine-se um mundo onde não há vampiros (não é difícil, é só olhar em volta).</br>
Nesse mundo surge um vampiro, no ano 0. Esse vampiro torna qualquer um que morda num vampiro. Como está de dieta, morde apenas 1 pessoa por ano.</br></br>
No ano 1, há 2 vampiros, o original e a sua primeira vítima.</br>
No ano 2, há 4 vampiros, porque cada um dos dois mordeu alguém.</br>
No ano 3, há 8 vampiros.</br>
No ano 4, há 16 vampiros.</br>
Cada ano que passa o número de vampiros duplica.</br>
No ano 10, há 2
10 = 1
mil e 024 vampiros.</br>
No ano 11, há 2
11 = 2
mil e 048 vampiros.</br>
Os anos passam.</br>
No ano 15, há 2
15 = 32
mil e 768 vampiros.</br>
...</br>
No ano 20, há 2
20 = 1
milhão 048
mil e 576 vampiros.</br>
...</br>
No ano 25, há 2
25 = 33
milhões 554
mil e 432 vampiros.</br>
...</br>
No ano 30, há 2
30 = 1
mil milhões 073
milhões 741
mil e 824 vampiros.</br>
somente 30 anos depois de surgir o primeiro em regime de dieta!</br>
...</br>
No ano 40, há 2
40 = 1
bilião 099
mil milhões 511
milhões 627
mil e 776 vampiros.</br></br>
Neste momento, há sensivelmente 6
mil milhões 516
milhões 907
mil e 250 de pessoas no mundo. Se tivesse surgido um vampiro (numa dieta especial anual, se não seria bem antes) no ano 0 da nossa era há muito que seríamos
todos vampiros. Aliás, para se ultrapassar (por muito) o valor da população actual bastariam 33 anos (2
33 = 8
mil milhões 589
milhões 934
mil e 592)!</br>
Mesmo que um vampiro tivesse (
a la Hulk) surgido numa mutação decorrente das bombas nucleares de Hiroxima e Nagasaki, elas foram há 60 anos. Já toda a população humana seria vampira. Se alguém tiver a imprudência de fazer, num laboratório de genética, um vampiro, em poucos anos seremos todos vampiros!
(se o vampiro não estivesse na dieta anual e mordesse uma pessoa por dia os 6
mil milhões 516
milhões 907
mil e 250 seriam alcançados em...
33 dias! Num mês, seríamos todos!)</br>
Não há vampiros nem nunca houve!</br>
Foram apenas uma criação do Sr. Bram Stocker para vender livros, baseando-se em algumas históias de um conde Romeno, Vlad Tepes Dracula.</br>
Dracula vem do latim que significa dragão, Ordem religiosa a que pertencia o pai de Vlad e por herança o próprio Vlad também.</br>
De facto Vlad não era uma florzinha de estufa (Tepes significa Empalador em Romeno, porque ele mandava fazê-lo como respirava), mas daí até ser vampiro... Também se fosse já todos seríamos.</br>
</br>
Como eu posso falar por mim, e eu não sou,</br>
Não há vampiros nem nunca houve!</br>
Quarta-feira, 27 de Abril de 2005
Melhor frase do dia
Para que não se pense que o Cognosco só premeia a pior alguma-coisa do dia, eis a melhor frase do dia, a digna sucessora do Pensamento do dia de 9 Abril (aqui, no Cognosco, no mês de Abril...):
O riso é a minha música preferida, SonKika.
Mas é tão difícil ouvir esta música por entre a cacofonia de ruídos indispostos que nos acompanham durante o dia...
Ó AI meu bem...

Revi recentemente (
vivam os DVDs!
) o filme
Artificial
Intelligence, dirigido por
Steven Spielberg</br>
(o «Estevão Entorna-a-(Carls)berg»).</br></br>
Trata-se de um filme de sci-fi que possui, muito
a la Spielberg, mensagens profundas e camadas escorreitas de significado. O mínimo que posso dizer é que é uma história de amor (filial), de como esse sentimento pode mudar o Mundo (ou pelo menos transmutar em seres humanos) e da preserverança que o mesmo instila.</br></br>
Basicamente, num futuro quase-daqui-a-pouco-mas-mais-um-pouco-mais-longe, um casal tem um filho que adoece e entra em coma. O homem trabalha numa fábrica de robots (do croata "robot" que significa servo) e esta precisa testar um novo robot, um com aparência infantil e programado para amar. Como tal, decide trazer para casa o menino-robot para que possa substituir o ausente filho do casal. Inicialmente, a devoção do menino-robot À sua mãe adoptiva erturba-a bastante. Mas, após os primeiros tempos, o menino-robot já está integrado na casa e o seu amor e carência emocional já não perturbam a "mãe" (ao "pai" é reservado um papel minoritário no filme...). Mas o filho verdadeiro é curado e volta. Temendo os ciúmes do menino-robot, a mãe, não querendo devolvê-lo à fábrica onde seria destruído, abandona-o na floresta (tal e qual como nos contos infantis).</br></br>
Começa agora, na minha opinião, o crescendo de qualidade do filme.O menino fica desesperado, com saudades da mãe. Enquanto vagueia pela floresta, encontra um grupo de robots e é capturado, juntamente com eles, para serem levados para uma feira que se dedica à destruição de robots para um público ávido de emoções. Nessa feira, o menino conhece um robot-
gigolo (falsamente acusado de assassínio), a quem se afeiçoa. Mas a aparência e emoções humanas do menino levam a multidão a exigir a sua libertação. No tumulto, o menino e o
gigolo fogem. O menino só quer ver a mãe. Mas sabe que a sua mãe não o ama porque ele não é um menino de verdade. Lembrando-se da história do Pinóquio, pede a Joe (o robot
gigolo) que o leve à fada azul, para que esta o transforme e a sua mãe o possa amar. Este não sabe onde ela se encontra mas leva-o a um super-computador que lhe diz que há uma fada azul em Nova Iorque (numa feira permanente que existe em Connie Island, ao largo da cidade). Mas o degelo das calotas polares está mais avançado e NY encontra-se submersa. Conseguindo roubar um veículo carro-helicóptero-submarino a um polícia, os dois vão até à cidade onde só o topo dos arranha-céus se vê (
numa nota de nostalgia para os espectadores actuais é a visão do World Trade Center, uma vez que o filme foi rodado antes de 2001...
). O menino deixa-se cair na água, perante o espanto de Joe (e numa bonita sequência em que se vê, reflectida na cara de Joe, a queda do menino. O reflexo ganha os contornos de uma lágrima escorrendo virtualmente no rosto humanóide do robot).
Encontra finalmente a estátua da fada-azul e posiciona-se à sua frente, pedindo com insistência para ser um menino de verdade.
Os anos, séculos (milénios?) passam e a Terra congela. O Homem está extinto e somente os descendentes dos robots caminham sobre a Terra (congelada). Numa escavação descobrem o menino congelado. A curiosidade dos robots sobre os seres humanos é imensa pois nunca conheceram algum. Os robots, apiedados pelas saudades do menino da sua mãe, recriam-na virtualmente mas apenas por um dia. E que dia magnífico tem o menino: a sua mãe ama-o, vão passear e ela é só sua. Mas o dia acaba e o menino vê-se novamente sozinho.
O Fim, se não houver um segundo filme...
Ora bem, deste filme retiro o seguinte:</br>
~ o amor (quando existe) é forte e poderoso, independentemente da sua origem (os donos de animais de estimação sabem o que isso significa, mas isso
não significa que sejam os únicos);</br>
~ a meu ver, a fada madrinha concretizou TODOS os desejos do menino. É certo que o menino não viu transformados os seus circuitos em carne, mas, quando "acordou",
nada havia de mais humano na Terra do que ele, nada mais tinha os sentimentos e o comportamento de um. A mãe do menino amou-o profundamente, nem que fosse por aquele único dia.</br>
~ a qualquer um que diga "Ah e tal, mas não era amor de verdade, era um programa de computador" só posso dizer que se o que o menino sentia não era amor neste mundo não há amor de qualquer tipo. Claro que é fácil fingir amor (
e quantos já não fizeram isto?
), é fácil dizer palavras de amor, é fácil abraçar e beijar como se existisse amor, mas o verdadeiro amor mede-se nas acções mais pequenas, nos gestos involuntários, nas atenções abnegadas, nos sacrifícios que não se cobram, nos presentes do coração, nos beijos dados com o olhar no meio de uma multidão. Pela definição que eu tenho de amor, o menino amava profundamente a sua mãe.