Diário das pequenas descobertas da vida.
Sábado, 21 de Maio de 2005
Dilema
Dois ladrões cometem um crime e são presos. São mantidos em celas separadas e depois são interrogados.</br>
A cada um é dito que:</br>
~ há provas suficientes para o manter preso durante
1 ano;</br>
~ se acusar o cúmplice ficará livre e o cúmplice será preso
3 anos;</br>
~ se ambos confessarem ambos serão presos
2 anos.</br>
</br>
O que deverá fazer cada um para minimizar a sua pena?</br>
</br>

</br>
</br>
~ Parece que o melhor é acusar o cúmplice. Assim sai livre. Cumpre 0 anos...</br></br>
Não havendo a possibilidade de contacto entre ambos,</br>
cada um fará
o que será melhor para si.</br>
~ Se acusar o outro provavelmente também será acusado e ambos passarão 2 anos na cadeia.</br>
~ Se se calar provavelmente o outro irá acusá-lo e passará 3 anos na prisão.</br></br>
Vai ter de acusar, não há dúvida. Se não o fizer pode passar 3 anos na cadeia!</br></br>
Parece de facto que a melhor opção é ambos acusarem o cúmplice.</br>
Assim apanham 2 anos em vez de 3 anos.</br></br>
Mas há uma melhor opção.</br></br>
Se ambos se calassem
passariam apenas 1 ano cada na prisão.</br></br>
Este é um caso clássico da Teoria dos Jogos, o ramo matemático que procura estudar as melhores estratégias e opções a tomar em situações em que escolhas têm de ser feitas. A Teoria dos Jogos tem sido aplicada com sucesso a uma série de campos do conhecimento que exigem tomadas de decisão, desde a Economia, a Biologia,...</br></br>

</br></br>
Como em muitas situações, parece que de facto</br>
a cooperação é geralmente a melhor opção.</br>
Cardinando
.: 10 é
dez na Europa e nos EUA;
.: 100 na Europa e nos EUA;
...
.: 1 000 000 (1 seguido de 6 zeros, 10
6) é
um milhão na Europa e nos EUA;
~ 1 seguido de 6 zeros é 106? Porquê? Não devia ser 16? Assim parece que é 1 seguido de sete zeros, o zero do dez mais os 6 zeros depois...
A questão de 1 seguido de 6 zeros ser 10
6 tem a ver com o facto de o 6 designar o
número de multiplicações que o número 10 (a base) faz consigo mesmo.
(Uma forma de escrever números muito grandes ou muito pequenos chamada
notação científica).
.: 10
6 é 10x10x10x10x10x10 = 1 000 000 (um milhão).
.: 1
6 é 1x1x1x1x1x1 = 1 (um).
Por isso 1 seguido de 6 zeros é 10
6 e
não pode ser 1
6.
e.g. 2
5 = 2x2x2x2x2 = 32
Mas a partir do
cardinal 1 milhão as coisas começam a divergir.
.: 1 000 000 000 ( 10
9 )
designa-se por
mil milhões na Europa mas nos EUA chamam-lhe
one billion.
.: 1 000 000 000 000 (10
12)
é
um bilião na Europa mas nos EUA já é
one trillion.
.: 1 000 000 000 000 000 (10
15) é
mil biliões na Europa mas nos EUA é
one quadrillion.
...
De mil em mil os Europeus designam o novo número como mais «um mil». «Dois mil seguidos» é mais «um milhão».
De mil em mil os estado-unidenses designam o novo número como mais «um milhão».

Não acharia necessário fazer ponto relevante esta questão
se não fosse o facto de por
demasiadas vezes ter lido livros de divulgação científica, com o honesto e louvável propósito de informar o público em geral de questões científicas de uma maneira simplificada mas
de informação incorrecta.
Todo um brilhante livro pode ter o seu brilho diminuido por
más-traduções deste tipo. O que se pretende que informe acaba por servir de veículo à transmissão de erros grosseiros.
O Universo tem
15 x 109 anos. Quando é um livro dirigido a um público europeu lê-se
15 mil milhões de anos de idade.
Os americanos podem dizer «fifteen billions» mas 15 biliões na Europa é 15 x 10
12.
Quando não entendidas estas diferenças podem (e são) ser fontes de erros e de desinformação.

Tudo bem, os Estado-unidenses lêem de uma forma e os Europeus de outra.
Mas que se saiba o que se está a referir quando se diz «um bilião» para evitar confusões e erros, particularmente nas traduções de obras. Por isso
é sempre bom os tradutores indicarem o número em notação científica para que se saiba que não há erros na sua tradução. Ter premissas comuns (como já muitas vezes focado anteriormente (ver
Dividere nam regere) é o primeiro passo para o mútuo entendimento.
De qualquer forma como este povo pode liderar o mundo científico é de alguma forma paradoxal quando se pensa nas
unidades de medida arcaicas que ainda usa (ver o artigo
Está frio aqui) e o estranha forma de dizerem mil, milhão, bilião,... sem passarem por mil milhões, mil biliões,...
Até na Matemática os estado-unidenses parecem apreciar a fast-food...
Voltas
Eis um paradoxo curioso.</br>
</br>
Uma pessoa está num jardim que tem uma árvore.</br>
Apercebe-se de um movimento e vê um esquilo escondido atrás do tronco.</br>
Como só lhe vê a cauda decide dar a volta para ver o esquilo melhor.</br>
Mas sempre que se move o esquilo muda de posição de forma a estar sempre</i> atrás do tronco.</i></br>
A questão é:</br>
</br>
Será que andou à volta do esquilo?</br>
</br>

</br>
</br>
~ Por um lado a sua trajectória é um círculo em
redor da trajectória do esquilo. Contornou a árvore onde o esquilo estava.</br>
Andou à volta do esquilo.</br>
</br>
~ Por outro lado para dar a volta a algo tem de se ver frente, lado, trás, lado, frente,... Assim é que se dá a volta a algo. E a pessoa esteve
sempre virada para o mesmo lado do esquilo, que mudava de posição.</br>
Não andou à volta do esquilo.</br>
Mega

</br>O maior animal que
existe e alguma vez existiu no Mundo é a
Baleia Azul, que deve o seu nome ao tom cinzento-azulado da sua pele. Medem entre 21 e 25 metros (havendo registos de
Baleias Azuis com 32 metros) e chegam a pesar entre 90 e 150 toneladas. As fêmeas são
maiores do que os machos, tanto em comprimento como em peso.</br>
Mas a generalidade das outras espécies de baleias terá 10, 15 metros, o que, apesar de grande, não se compara com o das
Baleias Azuis.</br>
</br>
A questão é
porque é que são tão grandes as baleias.</br>
</br>

Não têm predadores naturais que tenham sequer uma fracção do seu tamanho. O maior animal que caça por vezes outras baleias é
um familiar das baleias, a Orca (
não é baleia assassina. Assassinos são só os Homens. Apesar do seu tamanho, força e inteligência
não há um único registo de ataques de Orcas a seres humanos. Passaram de «Assassinas de baleias», por caçarem baleias comuns para lhes comerem a mandíbula inferior e a língua, para «Baleias assassinas». O Homem bem gosta de pôr nos outros os defeitos que são só seus...)
As Orcas têm menos de 8 metros de comprimento.</br>
</br>
~ Para quê então as baleias têm tanto tamanho?</br>
</br>
O porquê do enorme tamanho das baleias poderá prender-se com um
agora extinto tubarão: o
Megalodonte (
Grande dente).
Pensa-se que este tubarão seria parente do «pequeno» Tubarão Branco.</br>
</br>

</br>
</br>
~ Que tem a ver tubarões extintos com baleias? Os tubarões nem têm tamanho sequer para assustar baleias, quanto mais!</br>
</br>

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</br>
Existiu, há mais de 1 milhão de anos, esse
enorme tubarão, o
Megalodonte, que chegava a medir
15 metros. Surgem, nos registos fósseis, a partir de há 16 milhões de anos e desapareceram há 1,6 milhões de anos (dos fósseis, poderão ter sobrevivido mais tempo mas não se encontraram, ainda, fósseis dos mesmos). </br>
</br>
Sendo um tubarão
não há registos fósseis deste
enorme tubarão, pois não têm esqueleto (todos o seu corpo é feito de cartilagem, o mesmo material com que é feito as orelhas humanas e que compõe o corpo de todos os tubarões e raias, os chamados </i>peixes cartilagíneos</i> (ao contrário da maioria dos peixes que são ósseos. Os seus ossos são o que se chama as espinhas).</br>
</br>
~ Então como é que sabem que existiu este animal? Se não há fósseis e estão extintos...</br>
</br>
Quando um tubarão morre não deixa vestígios a longo prazo, pois a cartilagem não fossiliza, à excepção dos
seus dentes, que são bem duros.</br>
</br>

Os dentes do Grande Tubarão Branco (o protagonista do infame
Jaws) medem (os 3 mil dentes que tem na boca) mais ou menos
8 centímetros de comprimento.
Os dentes do Megalodonte medem
18 centímetros de comprimento. A sua boca poderia abrir com uma
largura de 1,80 metros e uma altura de 2,1 metros, suficiente para engolir até um Grande Tubarão Branco!</br>
</br>
Não há registos fósseis do megalodonte, mas a semelhança
de aspecto entre os dentes do Megalodonte e os do Tubarão Branco faz crer aos investigadores que seriam parecidos morfologicamente. Se serão ou não do mesmo
Género de tubarões é matéria de discórdia.</br>
</br>
Mas o que tem a ver isso com as baleias?</br>
</br>
Os únicos animais que poderiam servir de alimento a tão
grande predador marinho só podiam ser as baleias. Poderá ter-se dado uma corrida biológica ao maior tamanho: as baleias a aumentarem de tamanho para se protegerem do Megalodonte e o Megalodonte a aumentar de tamanho para as caçar. (O animal completamente marinho que provavelmente deu origem às modernas baleias foi o
Dorudon, surgido há 40 milhões de anos. Este tinha pequenos membros anteriores e uma bacia incapaz de suportar o animal em terra. O Megalodonte surgiu há 16 milhões de anos). Como a corrida biológica ao maior corredor entre as gazelas e as chitas: as gazelas a correrem mais velozmente para fugirem e as chitas a correrem mais rapidamente para as apanharem (
numa versão muito simplista da Teoria da Evolução, mais lamarckiana do que darwinista).</br>

</br>
</br>
Eram tubarões, não há dúvida. A dúvida é se seriam de facto do
Género do Tubarão Branco (Carcharodon) ou se constituiriam outro
Género, Carcharocles.
É impossível sabê-lo apenas com base nos dentes fósseis.
Mas
eram (esperemos que seja «eram» e não «são»)
Megalodontes, de nome e aspecto...</br>
</br>
O terror que seria o Megalodonte (que se espera esteja de facto extinto) poderá ter moldado essas magníficas cantoras das profundidades, as Baleias. Curiosamente, análises ao ADN de ambas as espécies apontam para o hipopótamo como o parente vivo mais próximo das baleias. Há 55 milhões de anos existiu um animal semi-aquático que se dividiu em dois grupos, os cetáceos e os anthracotheres, cujo único sobrevivente é o hipopórtamo.</br>
Até do mau podemos por vezes extrair algo de bom. Muitas vezes é só procurar...</br>
Quinta-feira, 19 de Maio de 2005
Vaca, a Espezinhadora

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Eis o animal que mais
pavor e universal
terror provoca nos seres humanos. Mas
não é o que mais pessoas mata pelo Mundo. E há outros animais que matam seres humanos mas que
não inspiram o
mesmo tipo de terror: tigres, serpentes, crocodilos, aranhas,...</br>
</br>
O número de mortes anuais por ataques de tubarões é de
10 (com um registo de 60 ataques anuais a nível mundial).</br>
Curiosamente o número de pessoas
mortas anualmente por espezinhamento por vacas é de
1000.</br>
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As vacas matam 100 vezes mais pessoas por ano no mundo do que os tubarões!</br>
</br>
Porquê essa discrepância entre o número de pessoas realmente morto por tubarões e o medo que inspiram?</br>
</br>
Os tubarões
nunca foram muito apreciados. Até os Japoneses só lhes comem a barbatana dorsal (
bárbaros!). Mas não passavam de peixes do mar alto, com que poucas pessoas alguma vez tinham contacto na vida.</br>
~ Talvez o facto de os tubarões serem os reis num universo em que o ser humano geralmente se desloca com a graciosidade de um bebé a aprender a andar aumente o terror. Sentirem-se impotentes e incapazes de agir torna as pessoas bastante nervosas.</br>
~ Talvez a visão daqueles dentes afiados como punhais lhe dê um aspecto sinistro, mas eu pessoalmente prefiro que haja o aspecto e menos o assassínio. Jack, o estripador, não parecia nada o que era (se não teria sido preso) e foi assassino.</br>
~ Quando, na década de 70 do século XX, se publicou o livo
Jaws e o respectivo filme de
Steven Spielberg, estes vinham pejados de ideias pré-concebidas e destinadas unicamente a manipular o terror criaram a imagem de um
assassino frio, uma
máquina de morder e engolir. Na verdade os tubarões têm a inteligência comparável à de um cão.
Não são assassinos, os únicos assassinos no Mundo são os Homens. Os outros animais (incluindo os tubarões) caçam para comer.</br>

</br>
Talvez tudo isso contribua para a fama (demasiadas vezes injusta) dos tubarões. Milhares de tubarões
morrem por ano e no entanto apenas
dez pessoas por ano são mortas por eles. Por exemplo, existem
imensos tubarões no
Mar Mediterrâneo (ver o artigo
Ao contrário da crença popular (Biblus)) para mais informações sobre os tubarões brancos mediterrânicos) e nem por isso se houvem notícias sobre mortes nos
milhares de turistas que visitam as praias espanholas, francesas, italianas, gregas,...</br>
</br>
46% desses ataques é a mergulhadores, 38% a surfistas, 11% a nadadores e 5% a pessoas em caiaques, sendo a distância entre 50 metros e 100 metros da costa aquela em que há mais ataques.</br>
</br>
O tubarão (isto é, as centenas de espécies de tubarões que existem, desde as minúsculas de poucos centímetros até ao gigantesco tubarão-baleia de 15 metros) é um animal bonito, forte, astuto e magnífico.</br>
Não digo que se adopte um tubarão e se o crie na banheira mas há que ter respeito por eles. Já existem no planeta há
200 milhões de anos.</br>
O ser humano nem 200 mil tem ainda...</br>
</br>
O título é uma alusão ao Jack, o Estripador</br></br>
Circulou, pela internet, a imagem que ilustrava anteriormente o artigo.
</br>
A imagem continha um surfista e o que era afirmado como sendo um tubarão. Mas, por análise da cauda do animal na água, é fácil verificar que é um golfinho. Os tubarões, como todos os peixes, têm as caudas verticais em relação ao corpo. Só os mamíferos marinhos (como os golfinhos) têm a cauda horizontal em relação ao corpo, como o animal da foto.
Com tino e siso

Os
dentes do siso numa ou noutra altura atormentam a vida dentário-dolorosa dos adultos
homo sapiens. Parece estranho que a evolução nos tenha fornecido um maxilar que tem geralmente insuficiente tamanho para comportar um
terceiro grupos molares que surge na nossa espécie quando se chega à vida adulta.</br>
</br>
Daí que esse conjunto extra de dentes tenha o nome de
dentes do siso, pois surgem quando
se espera (demasiadas vezes infrutiferamente) uma maior maturidade, responsabilidade, de siso nos indivíduos.</br>
</br>
Mas parece unicamente estranho apenas à luz de uma ideia de um
homo sapiens completo, perfeito, criado e finalizado no mesmo instante. À luz de uma visão do Homem como mais uma criatura deste planeta sujeita às mesmas limitações e regras que as restantes há coisas que encaixam, quando anteriormente parecem paradoxais.</br>
</br>
O
homo sapiens tem
dentes do siso. Surgem geralmente entre os 18 e os 20 anos, podendo contudo (infelizmente) surgir bem mais tarde. Quando surgem no maxilar este já adquiriu o seu tamanho adulto e há pouco espaço para os novos dentes. Surgem os incómodos, as dores,
dentes do siso que nascem com inclinações anormais (de lado, contra os outros,...) As causas para o seu aparecimento numa altura em que a dentição definitiva já surgiu é matéria de desacordo (mas não de discórdia). De entre as várias possíveis contam-se as seguintes:</br>
</br>
~ Os
dentes do siso podem ser um remanescente da evolução da nossa espécie. Serão uma característica «vestigial», algo que ainda se conserva apesar de não usado, como os minúsculos ossos nas baleias e nas serpentes nos ossos da bacia que são vestígios dos membros inferiores que os seus antepassados tinham.</br>
</br>
~ Uma outra possibilidade prende-se com a invenção do fogo. A descoberta do fabrico e uso do fogo é
anterior ao surgimento da espécie humana. Desde o
homo habilis que os hominídeos fabricam e usam o fogo. (ver o artigo
Ah, a foto de família para informações sobre a evolução do Homem). Com o uso do fogo para cozinhar a comida tornou-se mais fácil de mastigar. Assim o maxilar diminuiu de tamanho (por não ter de comportar músculos tão fortes) mas o dente do siso continua a surgir onde já não há muito espaço para ele.</br>
</br>
~ A questão da diminuição do maxilar terá a ver com a maturação física precoce que hoje se regista nas sociedades ocidentais, que não permite ao maxilar o tempo para crescer antes do aparecimento dos
dente do siso. Nas culturas não ocidentais, onde a maturação física ainda segue os padrões biológicos, os problemas com os
dentes do siso praticamente não existem.</br>
</br>
~ A questão dos problemas relacionados com o dente do siso poderão estar também ligados à alimentação, mas não evolutivamente. A alimentação mais tenra (por exemplo, à base de hambúrgueres) nos países ocidentais poderá não fornecer o exercício físico de mastigação ao maxilar que lhe permita desenvolver-se largo, forte e com
dentes do siso que não apresentem problemas.</br>
</br>
Seja qual for a sua justificação, são uma chatice que quem tem a infelicidade de padecer prefiriria não ter. Sem dúvida mostram que o Homem
não é uma obra acabada mas que pode e deve continuar a evoluir. Nada mais me agrada do que a perspectiva de que ainda há mais para subir e ser. </br>
</br>

Um outro exemplo evolução ainda a moldar a nossa espécie é que ainda existe ainda uma ligação entre o nariz e os ouvidos, uma ligação «vestigial» talvez dos nossos remotos antepassados peixes com guelras. É esta ligação a que as pessoas recorrem quando, após um megulho, por exemplo, sentem os ouvidos
entupidos. Tapam o nariz, fecham a boca e tentam esvaziar os pulmões. O ar não sai mas na pressão interna que cria liberta os ouvidos.</br>
</br>
Componentes «vestigiais» de um homo sapiens em busca de aperfeiçoamento... </br>
Quarta-feira, 18 de Maio de 2005
Pulchra luna

A Lua, o satélite natural da Terra, fonte de lendas, mitos, poemas, marés nos oceanos terrestres,...</br>
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Muitos dos planetas do Sistema Solar têm luas, mas a Lua é só uma.</br>
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Mercúrio não tem luas,
Vénus não tem luas, a
Terra tem um lua (a Lua),
Marte tem 2 luas,
Júpiter tem 63 luas,
Saturno tem 49 luas,
Urano tem 27 luas,
Neptuno tem 13 luas e
Plutão tem 1 lua. Estes números vão sendo actualizados à medida que novas luas vão sendo descobertas (no início do ano 2005 foram descobertas 12 novas luas em Saturno, por exemplo).</br>
</br>
Mas de onde vieram? Como se formaram? Mais importante
como se formou a nossa Lua? Há pelo menos 5 teorias sobre a formação da Lua, sendo ora uma ora outra mais aceites pela comunidade científica.</br>
</br>
~ a
Teoria da Fissão: a Lua começou por ser parte da Terra e de alguma forma separou-se dela no início da formação do sistema solar. O Oceano Pacífico seria a cicatriz dessa separação;</br>
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~ a
Teoria da Captura: a Lua formou-se longe da Terra e foi mais tarde capturada por ela. Seria um meteoro que, em vez de ambater violentamente contra a Terra, foi capturada pela gravidade da Terra devido à sua órbita e tornou-se seu satélite;</br>
</br>
~ a
Teoria da Condensação: a Lua e a Terra formaram-se da mesma parte da nebula que formou o sistema solar. Sendo mais pequena gira em torno dela;</br>
</br>
~ a
Teoria da Colisão dos Planetóides: os planetas (rochosos logo interiores do sistema solar) são a junção de pedaços de rocha que foram colidindo, aglumerando e aumentando a sua massa. Algumas dessas rochas ainda existiriam após a formação da Terra e a sua colisão entre si e com os os planetóides que giravam à volta do Sol levou à sua criação;</br>
</br>
~ a
Teoria do Anel Ejectado: um enorme planetóide chocou transversalmente contra a Terra, tendo o choque lançado para o espaço muita matéria (tanto terrestre como do planetóide). Essa matéria teria formado um anel em volta da Terra (como os de Saturno) e eventualmente ter-se-iam agregado e formado a Lua.</br>
</br>

As recentes idas dos astronautas americanos à Lua (é
mesmo no plural, ver
Ao contrário da crença popular (Luna)) possibilitou a recolha de amostras de rocha lunar para que pudessem ser comparados com as rochas terrestres. Constatou-se que a composição das rochas lunares e das rochas terrestres era bem diferente. Por exemplo, o
ferro é um dos elementos mais abundantes nas rochas terrestres e praticamente não existe nas lunares.</br>
</br>
Esta e outras observações levaram a que as hipóteses da Lua se ter formado da Terra tenham sido abandonadas. Ao longo dos últimos 10 anos também se exclui a hipótese da captura. Neste momento a hipótese
mais aceite é a de que a Lua se formou após a
colisão de um planetóide com a Terra, mas esta conclusão
não é consensual e ainda faltam muitas peças deste
puzzle...</br>
</br>
Mas a Lua será sempre a morada dos corações apaixonados. Independentemente de como surgiu será sempre a romântica origem do amor.</br>
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Uma das frases mais bonitas que conheço sobre esta questão é "(...)Posso falar da tarde que cai e aos poucos deixa ver, no céu a Lua que um dia eu te dei. (...)" da música «A Lua que te dei» da Ivete Sangalo, que aqui fez uma das músicas mais românticas que conheço.</br>
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No título: A Lua é bela
Terça-feira, 17 de Maio de 2005
Pseudis paradoxa
Em muitos aspectos da vida encontramos paradoxos, ideias cujas naturezas contrastam uma com outra de forma (simétrica):</br>
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. Em
Literatura é uma das figuras de estilo com que se pode enriquecer um texto (prosa ou poesia).
e.g. O deserto é um mar de amarelo.</br>
: Em
Matemática encontram-se também vários paradoxos lógicos, por exemplo usados para demonstrar a
falsidade de um argumento. Os
Paradoxos de Zenão são um bom exemplo matemático-filosófico, usados por Zenão para «demonstrar» a irracionalidade do conceito de uma linha recta; o Teorema de Gödel, que mostra que a Matemática
não se pode auto-demonstrar.</br>
.: Em
Filosofia surgem também por vezes para rebater argumentos, outras pelo fascínio que exercem sobre o espírito humano. A exclamação de um filósofo
Cretense de que todos os
Cretenses são mentirosos gera a mesma dinâmica que o célebre paradoxo, já antes referido,
Esta frase é falsa (ver o artigo
Excepção)</br>
:: Em
Psicologia Freud, procurando entender porque riem as pessoas, desenvolveu uma teoria que baseava o riso na descarga emocional com que o cérebro lida com paradoxos lógicos;</br>
.:: Em
Biologia estranhamente há também
paradoxos, não se limitando estes às construções do espírito humano. Os cavalos marinhos machos são fecundados pelas fêmeas, carregam as crias em bolsas especiais até ao seu nascimento e cuidam delas depois. (É paradoxal na medida em que é um ciclo oposto ao da maioria dos restantes animais do planeta)</br>
</br>

Um outro bom exemplo disso é a chamada
Rã Paradoxal. O nome de paradoxal advém de uma característica singular que possui. Na maioria dos animais a cria nasce
pequena e depois
cresce até ficar do tamanho de um adulto. Na generalidade das rãs começa como pequenos girinos que depois crescem para se tornarem adultas. Mas o girino da
Rã Paradoxal mede até
25 centímetros e depois
encolhe para ficar com os
8 centímetros de um adulto! Estas rãs vivem na ilha de Trinidade e também na Amazónia brasileira.</br>
</br>
Diminui de tamanho quando cresce. Faz lembrar aquela célebre frase «a juventude é desperdiçada nos jovens», querendo significar que lhes falta a maturidade para apreciarem a sua saúde e forma física convenientemente. (Esta questão
não é consensual...). É um pouco como se devéssemos nascer todos velhos e indo ficando progressivamente mais novos à medida que os anos passavam.</br>
Esta rã já há muito fez esta pseudo alteração. Pseudo porque se restringe apenas ao tamanho, envelhece e morre como as outras...</br>
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Pseudis paradoxa: nome científico da Rã paradoxal</br>
Embaraços linguísticos
Partilhamos com os nuestros hermanos muita da nossa história, costumes, origens culturais, origens populacionais, ....
Uma das mais marcantes é a semelhança entre a língua que fala um Português e um Espanhol, cuja ligação é mais marcante tendo em conta a segunda língua ofical de Portugal: o Mirandês, essa mescla de Português e Castelhano, falada em Miranda do Douro, Trás-os-montes, que ganhou o estatuto de Língua à custa da homegenidade linguística portuguesa.
Mas apesar das semelhanças talvez óbvias a qualquer ouvinte estrangeiro (as diferenças parecem notoriamente acentuadas para os falantes de ambas as línguas, como as diferenças entre irmãos gémeos para uma mãe, apesar de se entenderam os dois grupos de falantes), há palavras usadas numa lígua que têm notoriamente significado diferente na outra, apesar das suas semelhanças orais:
~ engraçada: em Português está associado ao estado de graça, graça na elegância física ou graça no sentido humorístico. Se uma pessoa é engraçada tanto pode ser porque gosta de contar (bem) piadas ou porque a sua presença física capta o olhar dos elementos do sexo oposto. Em Espanhol engraçado é sinónimo de gordo, no sentido físico do termo, sendo facilmente entendida com um insulto nesta hodierna (de «hodie», hoje em Latim) época em que vivemos.
~ embaraçada: em Português a palavra embaraçada remete para um estado mental ligado à vergonha. Alguém que é apanhado a cometer uma acção que sabe não deveria fica envergonhado, embaraçado. Em Espanhol, embaraçada é o gracioso estado físico em que se encontra uma mulher esperando o nascimento de um filho. Embaraçada em Espanhol é grávida em Português.
~ trampa: Em Português é sinónimo para os excedentes do metabolismo celular eliminados de forma sólida. Mas em Espanhol é sinónimo de armadilha, da mesma forma que em Inglês se usa trap. Quem por hábito gosta de pregar partidas é chamado de tramposo, no que seria em Portugal um enorme insulto.
~ mesquinho: em Português é sinónimo de avarento e tem uma conotação negativa. Em Espanhol mesquinho está ainda ligado à raíz da palavra e significa meramente que algo é pequeno. Assim um elefante pode ser mesquinho em Portugal (se quiser toda a erva só para ele, por exemplo), de uma forma que não pode em Espanhol, porque para um ser humano ele é tudo menos pequeno.
~ esquisito: em Português diz-se de algo estranho e desagradável à experiência de quem usa a palavra. Em Espanhol conserva o significado latino do termo, querendo significar que é raro e muito bom, uma especialidade. O termo conserva ainda esse significado latino original no termo exquisit em Inglês, que significa o mesmo que significa em Espanhol. Por isso não se expulse de casa alguém que, falando Espanhol (ou Inglês), diz do jantar que acabou de comer e que se passou horas a confeccionar que é esquesito (ou exquisit). Está na verdade, longe de insultar o jantar e o anfitriões, a elogiar a maravilha gastronómica que teve o privilégio de degustar.
Uma história (talvez meramente humorística) relacionada com estas diferenças (por vezes nada subtis) entre o Português e o Espanhol prende-se com:
Um grupo de Portugueses vai a uma baile e conhece um grupo de Espanholas. Um dos portugueses, talvez mais desinibido ou mas cativado por uma, diz a uma delas:
- É muito engraçada!
Como a espanhola fica muito constrangida e cora e as restantes riem, o Português, cavalheiro, exclama:
- Desculpe, ficou embaraçada!
Domingo, 15 de Maio de 2005
O elefante e a formiga

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Um elefante e uma formiga correm pelo deserto. Subitamente a formiga olha para trás e exclama: «Olha a poeira que nós levantámos!»</br>
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Eis uma história de que me lembro contarem-me na minha infância.</br>
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Na altura só o aspecto humorístico desta história me foi evidenciado.</br>
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Mas já adulto muitas vezes me recordo desta história quando sou confrontado com pessoas que
muito se atribuem no trabalho onde
nada fizeram.</br>
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Infelizmente a maioria das pessoas tem tendência para
deixar o elefante levantar a poeira, pregar-lhe uma rasteira e depois dizer que foram elas quem levantou toda a poeira.</br>
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O maior defeito que a Humanidade tem é a injustiça para com os outros. Todos os outros surgem deste.</br>