Hallo. Ich bin Ilona. Wie heißt du? Eis uma frase que faria levantar algumas sobrancelhas e não apenas por não se entender o seu significado (um simples «Olá. Eu sou a Ilona. Como te chamas?»). Quando se fala em (ou no) Alemão, recebe-se respostas como «Eu não sei Alemão mas não gosto, acho uma língua muito feia, muito dura de se ouvir. E depois tem umas letras esquisitas». É claro que o Alemão é uma língua como outra qualquer, nem mais nem menos feia. Estes são critérios subjectivos, variando conforme cada um. Mas de onde terá surgido esta má vontade em relação a uma das línguas mais antigas e importantes da Europa? Língua de compositores como Mozart e Strauss (o das valsas), poetas como Goethe, cientistas como Einstein e Von Braun (que desenhou os foguetões que levou o Homem à Lua), matemáticos como Gauss? E quem fala em língua fala nos próprios Alemães..... A frase teria soado como «Hálô. Ixe bin Ilôna. Vi áisst du?». O ß não passa de um duplo «s» e assim é lido... A ideia de que se trata de um povo frio, calculista, que fala uma língua que se assemelhará a uma sucessão de rosnidos poderá estar ligada ao passado recente e a um indivíduo, com um complexo de inferioridade e um bigodinho ridículo que, em 12 anos de governo, conseguiu destruir e distorcer uma cultura e uma nação que foi sempre das mais humanitárias e culturais do Mundo. Mas aproveitou as circunstâncias históricas em que surgiu e soube explorar, criar e aumentar os sentimentos negativos que na altura existiam, devido à forma como foi conduzido o final da I.ª Guerra Mundial (que não foi iniciada por eles, como por vezes se pensa). Para mais sobre a I.ª Guerra Mundial ver: ~ Um século sobre as ligações do terrorismo islâmico moderno às acções britânicas e francesas após a vitória contra as Potências Centrais; ~ Deutschland (Alemanha em Alemão) sobre a razão de os Alemães chamaram ao seu país Deutscland; ~ As pontes de Königsberg sobre a ligação entre a Alemanha e a criação dos Grafos; ~ Cavaleiro de Trapp'o sobre a família que inspirou o filme «Musica no Coração (A noviça rebelde) e a sua fuga aos nazis; ~ Pacis nox sobre o mais bonito episódio de Natal e que se passou na I.ª Guerra Mundial; E a Alemanha não se resume ao Holocausto (e é de recordar que os primeiros judeus mortos pelos nazis foram os judeus alemães, pessoas que apenas a religião distinguia dos restantes. A barbárie nazi começou por comer os próprios Alemães...) nem ao governo de 12 anos de um psicopata megalómano que, para nosso infortúnio, subiu ao poder de uma nação poderosa e respeitável como a Alemanha.
Um das críticas mais fáceis que se ouvem à língua alemã é que «tem muitos R's, é muito dura no ouvido!». Mas corresponderá isto à verdade? Será simplesmente um preconceito perpetuado pelo desconhecimento ou terá algum fundo de verdade? Analisemos a frequência com que a letra R surge em algumas línguas europeias, com base em algumas estatísticas retiradas da internet. Assim, em 1 000 letras, podemos encontrar as seguintes proporções de R: Espanhol 7,7%; Francês 7,4%; Português 7,3%; Italiano 7,0%; Alemão 6,9%; Latim 6,8%; Inglês 6,1%. Estas percentagens variam com a amostra de mil letras que se use. Para outras estatísticas sobre a frequência das letras entre várias línguas, ver Frequência das letras em várias línguas. O valor do tamanho das amostras é importante, já que, pela Lei dos Grandes Números, quanto maior a amostragem recolhida mais a frequência relativa se aproxima da probabilidade pretendida. E a selecção das amostras desempenha um papel importante também. Ou seja, mesmo o Português usa mais vezes o R nas suas palavras do que o Alemão. Mas será que a forma como o R é pronunciado em Alemão é tão carregada que os R's que há são realçados e exagerados? Explicaria isso a razão pela qual poderá parecer, a alguns, que há mais R's do que há verdadeiramente? Na verdade, como em muitos (todos?) outros países, há vários dialectos de Alemão, sendo que alguns carregam mais no R do que outros. No Alemão Padrão, muitos R's são quase inaudíveis ou transformados num som semelhante a um A. Por exemplo, considere-se esta citação do fabuloso filme alemão, de Fritz Lang, de 1927, «Metrópolis», pioneiro nos efeitos especiais: «Der Mittler zwischen Hirn und Händen muss das Herz sein.» (Entre a mente e a mão deve estar o coração). Esta frase, lida em Alemão Padrão, soaria como «Déa Mítla chvíchan Hérrne unt Hénden mus dás Hertze záin». Outros dialectos, como o Alemão austríaco, pronunciam mais carregadamente o R. Mas o Alemão Padrão suaviza naturalmente o R. Ou seja, é mais a má vontade/desconhecimento do que realidade...
No entanto, decidi, procurar por mim mesmo as frequências do uso do R e do T (outro possível candidato para a ideia de que o alemão é uma língua muito desagradável) nas «principais» línguas europeias (claro que este «principais» é um adjectivo de cariz estritamente pessoal). Por isso, reuni, textos com uma informação similar em 4 línguas europeias diferentes: Português, Inglês, Alemão e Francês. Para o fazer, consultei as páginas da Wikipédia em Português, Wikipedia em Inglês, Wikipedia em Alemão e a Wikipédia em Francês. O objectivo foi encontrar, em cada uma delas, textos sobre os 4 países de onde a língua é originária: Portugal, Inglaterra, Alemanha e França.
Será que encontraria uma frequência similar àquela que encontrei? E verdade é que a minha insistência foi proveitosa: encontrei valores bastantes díspares Os dados que encontrei e coligi podem ser encontrados aqui.
Mas isto não responde na totalidade à questão de saber se realmente o Alemão é uma língua que diz mais R's (e T's) do que as outras línguas europeias. Com o propósito de fazer essa comparação, criarei um valor estatístico, que denominarei de Dureza da Língua em Português (a percentagem dos sons que, na língua, são ouvidos como R's e como T's para quem fala Português). Infelizmente, há várias excepções, em todas as línguas, e nem todas podem ser avaliadas olhando apenas à forma como a palavra é escrita. Mas, mesmo tendo em conta esta característica das línguas vivas, é possível traçar tendências gerais. É claro que este é um critério puramente subjectivo e lusocentrado, uma vez que é uma definição baseada no que alguém, cuja língua materna é o Português, ouve. Em Português, um R lê-se carregado (no início das palavras e quando num RR). De outra forma, fala-se um R muito suave, quase nem R, como em «claro» ou em «protagonista». Juntando os mesmos textos sobre as 4 países europeus e fazendo uma contagem, obtive, em 100 mil letras, 757 (0,757%) R's carregados (RR e R no início das palavras). Além disso, obtive um total de 4817 (4,817%) T's (que é sempre lido como T). Obtive uma percentagem de Dureza da Língua em Português (DLEP) do Português de 5,574%. Em Alemão, geralmente um R é lido como um R carregado, com a excepção de, no final de uma palavra, de um «er», «ir», «or», «ur». A somar ao som R escrito com esta letra, há ainda que contabilizar os «ach» (árr), «och» (órr) e «uch» (úrr). Assim, num total de 220 mil caracteres num texto, há 14 mil e 443 (6,565%) R's carregados. Como, além dos T's, os Z's se lêem como «tz», há 15 mil e 520 (7,068%) T's pronunciados. Assim, o DLEP em Alemão é 13,633%. Em Francês, os R's são ditos carregados, com excepção dos «er» no final das palavras (há excepções como «mer» -> mar). Assim, em 182 mil caracteres, encontrei 11 mil e 046 (6,069%) R's carregados e 11 mil e 026 (6,058%) T's. Assim, o DLEP em Francês é 12,127%. Em Inglês, os R's não são lidos da forma carregada que se faz noutras línguas: o som R é feito com a língua no topo da boca (os R's suaves) e não com a garganta (os R's carregados). Os T's são lidos como T's, exceptuando-se os Th (um som que se assemelha mais a um S feito com a língua a tocar nos dentes). Assim, em 246 mil caracteres, conto 0 R's carregados e 13 mil e 332 (5,420%) T's. O DLEP do Inglês é 5,420%.
Ou seja, após esta imensa odisseia estatística, eis que encontro valores surpreendentes: O total de R's e T's, nas 4 línguas estudadas, aproxima-as todas. Mas já a «dureza» com que um falante de Português as ouve aproxima, surpreendentemente, o Português ao Inglês e o Alemão ao Francês.
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Atente-se a este exemplo da música «La foulle», em Francês, cantada por Edith Piaf, e preste-se atenção aos «R»'s da letra. O R's em Francês são bastante carregados, o que não significa que a língua não seja romântica... Ou seja, tendo em consideração não apenas o uso das letras R e T mas também o som ouvido, o Alemão (padrão) não se sai muito pior do que uma língua, tida como romântica e agradável, como o Francês. E a nossa língua também se aproxima bastante, em termos de sonoridade menos carregada, ao Inglês. Eis duas conclusões verdadeiramente surpreendentes... No título «A verdade do coração» em Alemão».
Ouça-se esta excelente música, cantada em Alemão pela banda alemã Juli (cuja vocalista se chama Eva Briegel): «Regen und Meer» (Chuva e Mar). Quem, depois de ouvir a música, pode verdadeiramente continuar a achar que o Alemão é uma língua dura? É uma língua muito bonita, é preciso é não cair em falsos pressupostos, em repetições do que se ouve e em julgamentos apressados: