Uma das várias características interessantes da Língua Portuguesa é o nome dos dias da semana.
Referido a 1 de Abril de 2005, ainda o Cognosco era um imberbe jovem com pouco mais de 1 mês de idade...
Bracelete italiano com os dias da semana representados pela divindade romana a eles associada
( Diana / 2.ª, Marte / 3.ª, Mercúrio / 4.ª, Júpiter / 5.ª, Vénus / 6.ª, Saturno / Sábado e Apolo / Domingo)
A maioria das línguas europeias usa as divindades/planetas greco-romanos ou as divindades germânicas para nomear os dias da semana.
Temos assim, em Inglês/Alemão,
Sunday/Sonntag (dia do sol -> domingo),
Monday/Montag (dia da lua -> 2.ª),
Tuesday/Dienstag (dia de Tyr -> 3.ª),
Wednesday/Mittwoch (Dia de Odin/Meio da semana -> 4.ª),
Thursday/Donnerstag (dia de Tor/Relâmpago),
Friday/Freitag (dia de Freia -> 6.ª),
Saturday/Samstag (dia de Saturno/Sol -> Sábado).
Ou ainda, em Francês/Espanhol,
Dimanche/Domingo (do latim «dies Dominicus» - dia do senhor),
Lundi/Lunes (dia da Lua -> 2.ª),
Mardi/Martes (dia de Marte -> 3.ª),
Mercredi/Martes (dia de Mercúrio -> 4.ª),
Jeudi/Jueves (dia de Júpiter -> 5.ª),
Vendredi/Viernes (dia de Vénus -> 6.ª) e
Samedi/Sábado (do hebraico Shabat «dia de descanso» -> Sábado).
Curiosamente, a palavra indonésia/sudanesa para Domingo é Minggu/Minggon, derivada diretamente do português «domingo», vestígio da nossa presença colonial na região.
Mas, ao contrário de todas as restantes línguas europeias (e em particular diferente das restantes línguas românicas como o Espanhol/Francês/Italiano), os dias da semana em Português são domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo. É comum pensar-se que a «-feira» nos nomes se relaciona com «mercado» (são sinónimos na nossa língua) mas, na verdade, é o oposto: era porque decorriam mercados nestes dias que «feira» perdeu o seu significado original e passou a ser sinónimo de «mercado».
Originalmente, a palavra «feira» (palavra em latim) eram os dias em que os escravos não eram obrigados a trabalhar para poderem prestar culto religioso e em que os tribunais estavam fechados. Quando o império romano se tornou cristão, os dias de culto religioso passaram a ser os dias em que se ia à missa (esta evolução linguística pode-se notar na palavra inglesa para feira «fair» e na palavra alemã para feira «Messen»).
É de «feria» que sugiram as palavras portuguesas «férias» e «feriado», referindo-se a dias em que não se trabalha.
Anteriormente, em latim, os nomes dos dias da semana eram designados pelos planetas/divindades Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus e Saturno (dies Sōlis/Lunae/Martis/Mercuri/Jovis/Veneris/Saturni). Depois da cristianização do império, «Sábado» e «Domingo» passaram a ser designados com referência religiosa (tendo os outros dias resistido à alteração). No entanto, para a a Igreja Católica, os nomes passaram a ser segunda-feira (segundo dia de culto religioso), terça-feira (terceiro dia de culto religioso),... e «sábado» e «domingo».
Também em Portugal, até ao século 6 DC, os das da semana eram «domingo, lues, martes, mércores, joves, vernes, sábado».
Em galego, a nossa mais próxima irmã linguística, os nomes ainda são «domingo, luns, martes, mércores, xoves, venres e sábado». No artigo Egrégios Ventos explica-se, entre outras coisas, que a Galiza e Portugal (anteriormente parte do mesmo reino) foram divididas entre dois primos da Bungúndia: Raimundo e Henrique, respetivamente tio e pai de D. Afonso Henriques. A sua origem comum explica as semelhanças entre a Galiza e Portugal).
Mas, no século 6 DC, o Bispo de Braga (na altura capital do Reino Suevo), de nome Martinho de Dume (ou de Braga), nascido na Hungria, achando inapropriado que os dias da semana tivessem designações da mitologia pagã greco-romana, espalhou a designação litúrgica católica dos dias da semana por entre os crentes do seu bispado. Ainda tentou que esta mudança fosse adotada por outros reinos cristãos mas sem sucesso. Dume é uma aldeia próxima da cidade de Braga.
Estátua de Martinho de Dume em Braga
Por isso, Portugal (nascido do condado portucalense situado no antigo reino suevo), passou a ser a única língua românica a não ter os seus dias designados de acordo com a mitologia romana ou germânica (ainda que fosse de esperar que na Galiza a alteração se tivesse dado também...). Uma boa consequência foi a facilidade com que os dias da semana são geralmente abreviados em português: 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª. E fica claro que o primeiro dia da semana é domingo já que depois é o segundo, o terceiro,... Noutras línguas, não se torna assim tão linear, o que levou à adoção da norma ISO 8601 (respeitante à representação de datas e de nomes) que estipula que os dias do ano são escritos no formato aaaa-mm-dd (2012-10-23, por exemplo) e o primeiro dia da semana é domingo (o que encaixa bem nos países lusófonos).