Diário das pequenas descobertas da vida.

Costuma-se pensar no cão como o «melhor amigo do Homem» e no bacalhau como o «fiel amigo». E no entanto não se refere aquela que é verdadeiramente indispensável à vida de milhões de pessoas.
É a muito estimada e valorizada
trimetilxantina.
A maioria das pessoas deveria andar na carteira com uma fotografia desta sua melhor amiga. Faz companhia quando se vai tomar café, aquece quando se bebe um chá, consola quando se descarrega as mágoas numa barra de chocolate, agita quando se almoça num «pronto-a-comer»...
A identidade desta super-heroína, que a todos acorre nos momentos de aperto, é de todos conhecida: a
cafeína, que tem como «BI químico» C
8H
10N
4O
2.
Na sua forma pura, a
cafeína é um pó formado por pequenos cristais, branco e com um sabor muito amargo. Em termos médicos, é usado como estimulante cardíaco e como diurético.
A cafeína é um alcalóide e pertence à família das xantinas (que inclui a teobromina, presente principalmente no chocolate). As xantinas no organismo são convertidas por uma enzima específica em ácido úrico (daí o efeito ligeiramente diurético da cafeína).
As plantas produzem cafeína como um
pesticida natural para matar os insectos que delas se alimentem, uma vez que estes não têm fígados para filtrar e tornar inóqua a cafeína.
A cafeína encontra-se nos grãos de café, nas folhas de chá (no preto e também no verde), na nozes de cola, nas bagas de guaraná e, em menores quantidades, nos grãos de cacau.
Outros nome para a cafeína são Guaraná e Mateína.
No chá, além da cafeína, há outra xantina quimicamente semelhante, a teofilina.
A principal fonte de consumo humano de cafeína é o café, bebida preparada com grãos de café. Há duas espécies de planta do café, a
Arábica e a
Robusta, tendo as variedades da primeira espécie menos cafeína do que as da segunda. Há outras bebidas que contêm cafeína, quer naturalmente quer por adicionamento artificial. As quantidades de cafeína variam conforme o produto em questão:
Café:

~ de cafeteira - 130 a 680 mg/litro;
~ descafeinado - 13 a 20 mg/litro;
~ instantâneo - 130 a 400 mg/litro;
~ expresso (feito com
Arabica) - 1,36 g/litro;
~ expresso (feito com
Robusta) - 3,4 g/litro;
Chá~ preto - 100 a 470 mg/litro;
~ verde - 8 a 30 mg/saqueta;
~ descafeinado - 1 a 4 mg/saqueta;
~ camomila - 0 mg/litro;
Chocolate
~ a quantidade de cafeína presente no chocolate é demasiado pequena para ter qualquer efeito sobre o organismo. No entanto, a teobromina que contém é
tóxica para cavalos, cães, gatos, papagaios (e outras aves) e pequenos animais. Se lhes forem dado chocolate, a teobromina permanecerá na sua corrente sanguínea durante 20 horas, uma vez que não conseguem processar a teobromina. Podem então ter ataques epilépticos, ataques cardíacos, hemorragias internas e eventualmente a morte.
Bebidas energéticas~ 340 mg/litro;
Na União Europeia os produtos que possuam uma quantidade de cafeína
superior 150 mg/litro têm de incluir um aviso quanto ao seu conteúdo.
A cafeína actua por todo o corpo bloqueando os receptores de adenosina que todas as células têm. A
adenosina é uma substância que, na extremidade dos neurónios, diminui a actividade celular nervosa, em particular durante o sono. Como a cafeína tem uma estrutura química semelhante à adenosina liga-se aos receptores de adenosina, bloqueando a sua acção. Como resultado, o nível de actividade das células nervosas não é ajustado às necessidades. Isto causa a libertação de adrenalina. Esta aumenta os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, o fluxo de sangue para os músculos (diminuindo o fluxo para a pele e orgãos internos) e despoleta a libertação de glucose no fígado. Da mesma forma que as
anfetaminas, a cafeína aumenta os níveis de dopamina nos neurotranmissores (é este aumento de dopamina que, como o faz as
anfetaminas, a
heroína e a
cocaína, provoca a viciação na cafeína).
A cafeína, no entanto e ao contrário do álcool, tem um efeito de duração curta (é, em média, completamente decomposta em 5 horas). O fígado decompõe rapidamente a cafeína em 3 dimetilxantínas: teofilina (que descontrai os brônquios nos pulmões), teobromina (que dilata os vasos sanguineos) e principalmente paraxantina (que leva ao aumento da lipólise, que aumenta a quantidade de gliceróis no sangue e de ácido gordos).
Como qualquer um que já tenha consumido frequentemente café sabe, a ingestão de cafeína aumenta a sua tolerância, pelo que é necessário maiores quantidades para produzir os mesmo efeitos à medida que se toma regularmente bebidas com cafeína. Quem sofra do vício da cafeína necessita de a tomar, já não para se sentir melhor, mas para não se sentir mal. A retirada brusca de cafeína leva a uma hipersensibilidade à adenosina, o que leva a uma diminuição brusca da pressão arterial (o que provoca as típicas dores de cabeça).

O excesso de cafeína pode levar à intoxicação.
Os sintomas variam com a quantidade e a pessoa.
Em algumas pessoas 250 mg diárias podem provocar agitação nervosa, excitação, insónia, faces coradas, perturbações gastrointestinais e por vezes alucinações.
1 grama diária pode provocar tiques nervosos, discurso e pensamentos incoerentes, arritmia cardíaca ou taquicardia.
Há casos registados de mortes por intoxicação por cafeína, principalmente ligadas ao consumo de pílulas de cafeína por estudantes e pessoas que trabalham por turnos.
(Num caso nos EUA, um estudante morreu após ingerir 90 dessas pílulas - o equivalente a 5 litros de bicas).
Há também casos de abortos espontâneos, diminuição do crescimento fetal (para doses superiores a 300 mg diárias) e alteração dos batimentos cardíacos do feto.
O excesso de cafeína pode provocar pressão arterial alta (que pode provocar acidentes vasculares cerebrais), vaoconstrição (que pode provocar mãos frias) e aumento da produção de ácidos gátricos (o que pode provocar úlceras no estâmogo e esófago).
A dose letal de cafeína para um ser humano é cerca de 10 gramas.
Mas está mostrado que o consumo de sete ou mais «bicas» por dia diminui o risco de diabetes do tipo II...
A história do consumo de cafeína data de há muitos séculos, com o consumo de chá na China Imperial.
Durante o século 15 os Sufis do Iémen (ver o conto Sufi no artigo
Sufi ciente) bebiam café para se manterem acordados durante as orações (!).
No século 16 havia cafetarias no Cairo e em Meca.
No século 17 o café foi introduzido na Europa pelas invasões turcas da Áustria
(como visto no artigo
Cappuccino)
Dito isto confesso-me um apreciador de café.
Gosto do paladar, gosto do aroma.
Consumo é muito pouco (talvez uma bica por mês) por três razões:
~ apreciar é consumir pouco. Consumir muito é não apreciar, é engolor por hábito;
~ para que, quando o tomo para aumentar o meu estado de alerta, me faça efeito com uma só bica;
~ para evitar o vício (se há coisa que me perturba é a ideia de depender para um bom estado de espírito de substâncias externas a mim).
Este artigo surgiu na sequência do artigo QUAL O CAFÉ MAIS FORTE? O CURTO OU O CHEIO? do blog Informações úteis.
Em resposta a esta questão a Delta enviou uma resposta à autora, que esta transcreveu.
Informam que a quantidade de cafeína numa «bica» curta é 87 mg, numa normal 94,5 mg e numa cheia 98,1. Mais nada informam. Não referem a taxa a que a cafeína é processada no corpo, a questão (que penso ser a relevante neste caso) de haver ou não uma diferença num maior volume de café.
Insatisfeito com a resposta e como a ideia para este artigo era já antiga, surgiu então este esclarecimento sobre a cafeína.
A resposta a questão colocada parece-me ser a de que a diferença na quantidade de cafeína é pequena (8% - 7,5 mg da bica curta para a normal e 5% - 3,6 mg da normal para a cheia, de acordo com os números fornecidos).
Como já foi referido, o efeito da cafeína depende do peso corporal e dos hábitos de consumo.
Acresce-se que não interessa a suposta «diluição» nas bicas cheias.
É verdade que há mais água mas há proporcionalmente mais cafeína.
A concentração é a mesma.
A quantidade é que é maior.
Para quem tome regularmente café, parece-me que estas quantidades não são muito diferentes em termos de efeitos.
Mas a diferença de quantidades entre a «curta», «normal» e «cheia» é aproximadamente igual à diferença de quantidade de cafeína entre tipos diferentes de descafeinados (cujo conteúdo de cafeína varia entre 13 e 20 mg, ou seja, uma diferença de 7 mg).
Se não se sente a diferença entre tomar um descafeinado de uma marca ou outra,
não me parece que a diferença entre os 3 tipos de volume seja sentida de qualquer forma.
No título «O café é o melhor amigo»